Em 14/10/2015 mandei para a Lista da Rural um comentário sobre os presentes do dia das crianças. Falava do Kichute que consegui comprar para o Artur, um número 28, coisa rara de se achar hoje em dia. O Sérgio de Santos/SP ficou doido para comprar um para ele. O texto é o que se segue:
"Dia das
crianças. Dia de presente para os meninos. Minha Zequinha
ganhou bastante,
inclusive uma caixa com 24 batons da Moranguinho, que mamãe
comprou prá ela.
Achei absurdo, mas papai explicou que 6 são dela, a
dúzia e meia de resto é
para dar de presente às amiguinhas. Meia dúzia
também é absurdo, menor mais é.
Meu Zequinha
ganhou a mesma tacada, mas ganhou um especial que comprei
prá ele. Sei que vai
fazer inveja nos meninos da escola dele, mas paciência. Segue
o retrato do
presente. Depois mando quando ele estreiar.
Prá num dizer
que eu num disse de Rural, já tô com a Faustina
pronta e abastecida. Amanhã
saímos de madrugada rumo à uns lugares ruins,
cheios de água e quedas d'água.
Fazer o que ? Espairecer..."
Remendei a história contando nossa viagem que havia terminado no dia anterior, a primeira viagem dos meninos para uma cidade do que eu chamo de Grande Circuito da Serra do Espinhaço. Meu comentário foi o seguinte:
Rapaiz !...
Viajamos na quinta cedo. Já disse aos meninos, logo ao subir na Faustina, que seria a melhor viagem que já tinham feito. Fomos na Faustina, pois o Edwaldo está praticamente aposentado, ele não cabe todo mundo. Digamos que são férias, sine die prá voltar a trabalhar. Nisso ele fica no paradeiro, queimando vela do 6º cilindro de vez em quando, por andar somente distâncias muito pequenas.
Mas voltando à diversão, depois de um tanto de cachoeira, fomos ao último destino, um rio limpíssimo, a uns 2 Km abaixo do Parque Nacional do Cipó, sem mais nada prá cima desse ponto. Esse rio nasce dentro no Parque. É o Rio Cipó nascendo para o lado da bacia do Rio São Francisco, e esse rio nascendo para o lado do Rio Doce, praticamente no mesmo ponto. Eu sempre acho que esses dois rios são gêmeos.
Sei que o caminho estava ruim, mas dava prá Rural. Desci até um ponto que eu teria segurança para voltar, e que dava prá manobrar virando ela prá trás. O início da volta foi tranqüilo, eu embalado na Faustina, o Zequinha no banco da frente, e a Rose e a Zequinha andando na frente prá sinalizar. Passei por elas numa vala, passei com facilidade deixando elas pra trás, mas não parando prá passar do ponto pior. Sempre acho que prá cima é mais fácil que prá baixo. Continuei tocando já quase saindo da parte pior. Fomos até um ponto em que, num sei se a roda livre direita mascou, ou se fui eu quem não engatou a tração direito, só sei que a Faustina deu uma patinada no cascalho arenoso totalmente solto. Até ai tudo bem, normal. O anormal foi eu insistir, tentando sair. Eu teria que ter descido do carro, olhado, calçado com galhos o caminho prá evitar patinar, conferir se as rodas livres estavam engatando, e se a tração estava engatada. Era só isso que eu teria que fazer, mas estupidamente eu insisti, e agarrei a Faustina nos dois eixos.
O resultado da presepada é que tivemos que andar 5 Km, a maioria morro à cima. O Chico, com os seus 14 anos, não consegue mais um estirão desses, e tive que levá-lo nas costas. Até que ele se comportou bem com as artroses que tem. A Rose com o joelho doendo, mesmo após a operação que fez em cada um deles. E os dois Zequinhas andando com as perninhas que tem. Os 5 Km para ela valeu uns 10, e para ele uns 15. Mas subiram valentemente, ela sempre otimista, falando que iríamos arrumar recurso no Sítio Bom Jesus que havia visto na ida, e ele dizendo que na estrada de Baltazar arrumaríamos um jeito. Os lugares eram o mesmo, só mudava a referência. E foi isso, o Sr. Raimundo do Sítio Bom Jesus nos levou à cidade na sua D20 cabine dupla. O por do sol na chegada à cidade foi inesquecível, com o sol do lado direito do Pico do Itacolomí, vermelhinho por causa da fumaça do fogo que queima no Parque Nacional do Cipó. Deveria ter fotografado, mas fiquei sem jeito de abusar do Sr. Raimundo. Dei uma calibrada boa no tanque dele, que à princípio não queria aceitar, mas com minha insistência levou também meu agradecimento material.
Ontem pela manhã, domingo, saímos com um carro e um jerico da Prefeitura, e fomos buscar a Faustina. Ela havia passado a noite lá no Rio de Peixe, no mato, no sereno, sozinha. O Glauber de Ruth ajeitou tudo, e se num fosse ele só hoje é que teríamos tirado ela. O carro voltou uns 8 a 10 Km antes de chegar, e dali prá frente fomos, eu e Glauber, assentados nos pára-lamas do jerico. Nó ! À pé é muito mais agradável, juro.
O jerico, um MF 4275 novinho, com tração nas 4 rodas. O jeriqueiro, muito bonzinho, se mostrou cuidadoso ao começar a puxar a Faustina, vagarosamente. Pensei: “Se for verdadeiro o receio da Rose sobre a possibilidade do jerico não conseguir fazer o serviço, vamos ter que arrumar um D8 prá puxar todo mundo”, mas estava cansado de saber que isso não procedia. Amarrei minha corda, a corda de 24 metros do Edwaldo, e ele foi devagarzinho como deve ser, sem arrancos. A corda correu no início, pois deixo um pouco frouxo os nós mesmo, mas apertou após dar linha de uns metros. Melhor que o Jerico ficou mais longe da Faustina. Na primeira puxada, que o Glauber falhou por não filmar, o jerico traçado afundou as 4 rodas um meio metro. Uma manobra do operador para sair dos buracos que o jerico fizera, uma baixada na alavanca do bloqueio do diferencial traseiro, uns três pulos do jerico e já estava a Faustina subindo a rampa atrás dele, sem esticar a corda. Que força prá fazer a Faustina desagarrar e começar a andar. Acho que um Jeep não conseguiria tirar ela de lá.
Paramos logo em seguida, desamarramos a Faustina do jerico e o Glauber entrou. Ele viu a Faustina subindo com facilidade tudo que era desafio feio que aparecia, apesar de eu achar que prá cima é sempre mais fácil. E comentava "A Faustina é macha !...", a cada enrosco transposto. Concluí que se não fosse a minha burrice no dia anterior, insistindo em seguir com ela patinando sem não olhar o que ocorria, teríamos chegado à cidade sem problemas.
Me resta o consolo, e que ótimo consolo, que com essa minha falha os meninos passaram por uma aventura e por sentimentos que não esquecerão jamais. Sentimentos de coragem, camaradagem, perseverança, companheirismo, superação frente ao desconhecido, uma verdadeira lição. A Rose também não esquecerá, só que as lembranças dela terão outro ângulo. Sei que vou pagar e escutar isso por muito tempo, no menor probleminha que eu achar em qualquer estrada. Mas no fritar dos ovos, valeu a burrice.
Putzgrila !...
Ficou comprido. Vou aproveitar essa mensagem, inserir mais qualquer
coisinha da
história, colocar uns retratos e vídeos e por na
página do Edwaldo e da Faustina. Essa
viagem foi ótima, a estréia dos meninos na Serra do Espinhaço. E nem queriam
voltar prá casa mais,
por tanta cachoeira, rio, lageados, grutas, bacias, túneis,
cânions que
conheceram.
Um abraço, até a próxima,
19/10/2015
Walter Júnior - B. Hte. -
waltergjunior@waltergjunior.com
Rio de Peixe, Chico nadando-Peguei ele já saindo, mas nadava toda hora. - 17/10/2015
Rio de Peixe-Essa é para ouvir os barulhinhos do lugar - 17/10/2015
Rio de Peixe-Faustina, já desamarrada, seguindo o jerico na subida da serra. -
18/10/2015