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Faustina-Alguns Casos

 

      Tô Bão ! 

Os batentes do pára-choque dianteiro dela guardam um caso interessante. O Sô Quito, ex-dono dela, perdeu um deles indo para a roça, enquanto rodava em rodovia.

Apesar dela estar um enorme canguiço, pois trabalhou na roça por 15 anos, Sô Quito tinha grande afeição à ela. Tinha sido o carro da família por outros 24 anos e foi comprada zero. Querendo completar o carro, pediu à um caminhoneiro amigo que, caso encontrasse um batente destes pelos ferros velho mundo afora, comprasse para ele. O caminhoneiro garantiu que iria trazer outro batente em breve, acho que só prá alegrar o homem. E Sô Quito só esperando a brevidade do aviamento do pedido...

Nós, que não podemos ver nada parecido com Rural em ferro velho, não vemos desses com facilidade ! Eu mesmo vi só um par, em um pára-choques de Aero antigo, que são os mesmos usados na Rural. Tive vontade de comprar o pára-choque inteiro, com batente e tudo, mas estava podre demais. Só aproveitei três parafusos ovais, que são usados na dianteira, mesmo assim dois só saíram quebrados.

Passou-se quase um ano, e o Sô Quito só esperando. Um dia indo para a roça, uma coisa brilhando no acostamento, no meio do mato, chamou a atenção dele. No que firmou os olhos, e para alegria minha também, pois seria tarefa árdua achar outro, viu o batente perdido.

Esse batente hoje está montado do lado direito. É fácil ver que é ele, pois tem um desgaste profundo na rosca do parafuso, dando sinal que rodou frouxo muito tempo, cortando a rosca no suporte e na lâmina.

Quase que, por desmazelo do Sô Quito, eu não tinha o par, pois era só dar um aperto e pronto. Mas a Faustina estava um canguiço tão grande, com os feixes de mola ainda originais de fábrica tão arrebentados, que um barulhinho de batente não chamaria atenção de ninguém mesmo.

São as histórias que fazem o prazer de um carro velho. Estive com o Sô Quito uma única vez, quando fui comprar a Faustina em Dores do Indaiá. Mas ficamos lá umas 4 horas, proseando enquanto resolvíamos os detalhes do carreto. A documentação foi muito fácil.Um menino foi mandado levar o documento na casa de num sei quem, que é o dono do cartório, e já voltou com tudo pronto. Um telefonema prá delegacia foi suficiente prá constatar que ela não tinha multas, estava com IPVA em dia, mas tinha dois DPVAT em atraso. E pronto.

Apesar de tanta prosa, somente já entrando no carro para voltar prá casa é que perguntei ao Sô Quito. "Sô Quito ! A Rural tem nome ?" E ele com o dedo em riste, balançando como que regendo, falou silabicamente: "Faus-ti-na ! E esse nome eu dei em 1962 quando comprei ela." Disse que iria manter o nome, mas se ela não tivesse nome seria Terezinha, "que é o nome da mulher do senhor". D. Terezinha ouvindo isso me deu uma carreira xingando: "Terezinha de jeito nenhum. Tá me chamando de velha, menino ?"

Segue em anexo uma das fotos que tiramos no dia da compra. E estou certo que brevemente irei conhecer Araxá, que por coincidência foi a única viagem que a Faustina já fez rodando até hoje. Vou deixar que ela me leve até lá. Nessa vou aproveitar para dar uma passada em Dores do Indaiá, prosear mais um pouco com Sô Quito e com Dona Teresinha. Acho que ele vai me xingar um pouco, só porque pintei ela de verde. Também, 39 anos acostumado com ela cinza, ficou um pouco entristecido com a notícia que ela seria verde. Mas vai me perdoar depois que eu  jogar a chave para ele e dizer: "Mata a saudade ai, Sô Quito !..."

Um abraço,

18/12/2005

    

   Walter Júnior - B. Hte. -

waltergjunior@uai.com.br  

walter.junior@ig.com.br

 

  

 


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