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Faustina em Araxá, com o retorno a Dores do Indaiá

 
Tô Bão ! 

O feriado de 1º de maio estava bom mesmo para viajar. Então o destino dessa vez foi Araxá. Nem eu, nem Rose conhecíamos a cidade, e como seria um passeio civilizado, num deu para o Chico ir. Até tivemos mais três cachoeiras somadas à lista, como não poderia ser diferente, mas a história de museus, hotel, restaurantes e o Grande Hotel de Araxá, que um passeio desses pede, não deixariam muita opção para passeios com o Chico. Nessas cachoeiras é que vi que o passeio era mesmo civilizado. A Rose fez que nem marinheiro de primeira viagem, e nem roupa adequada levou. O recurso foi vestir a minha, que era mais apropriada, apesar de novinha, enquanto eu ficava só de short de nadar. Também escutou demais: “Num poe a bunda nessa pedra não. Vai estragar meu short novo!...” Até tirei uma foto com a mesma roupa, prá fazer uma montagem depois... Vai ficar um uniforme legal. Também as cachoeiras eram civilizadas, cheias de facilidades, com cordinhas e escadinhas, apesar de ter uma subida nas pedras bem mais difícil. A Rose até comemorou muito em conseguir passar, nem sei porque. Já fomos em cada lugar muito pior... Em duas das cachoeiras tinha tirolesa, e fiquei brincando com isso. Cachoeira legal! Nunca vi uma com o poço tão curtinho. Só notei isso depois que a Rose observou, de tão bom que estava a brincadeira com a tirolesa.

O Grande Hotel é caso a parte, com a imponência e opulência devida. A lua de mel de meus pais foi lá, mas na época, numa data muito próxima à da fabricação da Faustina, o melhor transporte era trem, e da estação, seguia-se de carro de praça ou carro de aluguel, como era dito na época. Fico imaginando a época em que foi feito. Alí era um mato danado, Araxá uma pequenina cidade. Devia deslumbrar muito mais que hoje. Mas não nos hospedamos lá. Lembram-se? Jeepeiro tem que economizar no pouso que é prá gastar no posto. Mas ficamos em um ótimo hotel no centro, e muito mais em conta.  

Os vitrais do teto das Termas são coisa de louco. Tem até uns divãs para deitar, relaxar e apreciar. Quase tomei um tombo quando deitei. Achei que aquele treim era duro, e soltei de uma vez. O atentado é de mola, e me mandou de volta pra cima, quase caindo no chão. Por sorte, usei a ligeireza habitual e cai em cima dele novamente. Demorou um pouco para parar de balançar. Não tem amortecedores. Um detalhe me chamou mais a atenção. O mapa de Minas Gerais no vitral central está espelhado, mas os nomes das cidades estão corretos. Custei a entender olhando Poços de Caldas no norte. Talvez de helicóptero, que como diria o Geraldinho, aquele avião que tem um cata-vento no lombo, dê prá ver direitinho.

Durante a reforma da Faustina, eu dizia que a primeira viagem seria para lá, e que colocaria daquelas gravatas finas, usadas na época, para um jantar em um dos restaurantes do Grande Hotel. Só para curtir um pouco a ocasião, usando um carro de fazendeiro graduado. Mas os tempos hoje são outros, e entra-se no Grande Hotel até de bermuda e camiseta. Arrumadinho, com uma roupinha de domingo, eu já estaria muito bem. O projeto da viagem, enquanto montava a Faustina, dava o direito a um pequeno desvio, e levá-la a retornar a Dores do Indaiá, para o Sô Quito ter a chance de vê-la novamente. No final das contas, não foi a primeira viagem dela depois da reforma, mas a oportunidade chegou, e isso é que foi feito.

Apesar de ter sido civilizada, foi uma viagem boa, daquelas que lavam a alma, e nos deixa renovado na volta. Quase igual a uma viagem na terra. Nem os pequenos tropeços da Faustina me fizeram esquentar a cabeça. Esquentou sim, mas foi o motor dela, com a válvula termostática agarrando. Uma bela hora agarrou aberta, e não esquentou mais. A bomba d’água também começou com uma chieira de rolamento. Sambou por ter ficado muito parada durante a reforma, e naquela época vazava direitinho, o que me obrigava a colocar uma bacia em baixo. Um bocadinho de querosene na água do radiador fez a gaxeta parar o vazamento, mas já tinham sido molhados os rolamentos. Tá bão! Rodou 5.000 Km, então vamos trocar, que é para esse treim não travar na hora que não deve. Outro tropeço também foi um grande estalo na embreagem, quando dei uma pisada no pedal. Ele desceu bastante, imediatamente, mas tentei engrenar uma marcha e não tive problemas. Vi que tinha sido só a mola do pedal que quebrou, mas não conseguiria achar outra em Araxá facilmente. Como Jeep é facinho de arrumar, com uma goma de câmara de ar o problema se resolvia. Só que dei solução mais clássica, comprando uma mola de freio de bicicleta, e aumentando o comprimento dela com um pedaço de fio de telefone. Ficou feia a gambiarra, amarrada com a mão, mas funcionou muito bem até a troca por uma mola correta.

Esse fio me foi dado pelo Sô Walter Natal, dono de uma venda no centro da cidade, onde se compra queijo canastra do bom, muitíssimo mais barato que nos pontos marcados para turista. Também, fuxicadores que somos não dava prá contentar com o caminho ditado, aquele caminho que os turistas sempre seguem. Sô Walter Natal, ex-jogador do Araxá F.C., bom de papo, e juntamente com o Sô Hélio Neves, ex-jogador do Santos, contava casos de antigamente. Contava do tempo que a cidade era segura e tranqüila, podendo deixar o carro aberto e com a chave na ignição. Falou de uma BSA, aquela motocicleta inglesa antiga, que tinha. Uma vez esqueceu a possante com a chave e tudo, em frente ao campo do Araxá, pois distraidamente retornou a pé conversando com umas moças. Quando lembrou da moto, retornou um bom tempo depois e achou no mesmíssimo lugar. Também se dizia o maior jogador do Araxá, com seus 1,83 de altura. Os outros eram todos menores... Sô Hélio Neves contava do Santos, jogando com o pai do Pelé. Dondinho, não é isso? Nunca fui muito chegado em futebol. Esse papo todo sempre aparece por causa da Faustina ou do Edwaldo. São carros antigos que fazem o pessoal lembrar do antigamente, e começar a conversa. É sempre assim, e são sempre assuntos muito bem vindos.

Outro desses assuntos foi em uma tarde, em que voltávamos à Fonte Dona Beija, no bosque que tem no em torno do Grande Hotel, com umas garrafas para trazer água. Água de primeira, radioativa, diferente. Tão boa e diferente quanto a carbogasosa de São Lourenço, apesar de não ter gás. Só as sulfurosas, como as de Araxá e Poços de Caldas, ou de qualquer estância hidro-mineiral é que não dão para beber. São cheias de propriedades, mas escorregam feito soda cáustica e são catingudas feito ovo choco. Esse dia não nos deixaram entrar de carro, pois tinham umas atividades com crianças pelo bosque. Tinha um carro de São José do Rio Preto/SP à nossa frente, que também não pôde entrar. Estacionamos do lado de fora perto um do outro, e nele estavam duas gêmeas, com a mãe e a avó. Aproveitei a parada para fazer um cigarro de palha e enquanto isso elas se aproximaram. Elas têm uma Rural e uma Belina, deixada em 2001 pelo avô, uma para cada gêmea, mas segundo a mãe estão paradas desde então. A avó ficou admirando a Faustina e, enquanto eu fazia o cigarro, disse a Rose para abrir e mostrar o carro à ela. Retornou do carro chorando, emocionada pelas lembranças que a Faustina trouxe à ela.

Falta agora só a emoção do retorno à Dores do Indaiá. Não podíamos perder a oportunidade, e já tínhamos avisado antes da saída da viagem que passaríamos por lá. Cheguei certinho na casa do Sô Quito, e não sei se foi por boa memória ou se a Faustina quem me guiou até lá, de tão acostumada que era com aquele caminho. Sô Quito nos recebeu e nos acomodou na sala. Disse a ele que tinha levado a menina para ele ver. “Vamos chegar que depois vejo a menina!”, disse ele. Mas foi só Dona Theresinha chegar, que logo deu um jeito de ir andando devagar até a rua. Acompanhei ele, e ao chegar do lado da Faustina foi dizendo fazendo um carinho na lateral dela: “Mas ficou que nem zero quilometro!” Dei para ele a chave, a chave oficial Willys, com o chaverinho da Rural Jeep agarrado nela. “Dê uma volta Sô Quito. Mate a saudade!”. Foi no que ele respondeu cabreiro: “Vamos andar sim, mas vou de lado, que é para apreciar melhor”. Brinquei dizendo que era capaz de ele não saber mais operar uma caixa seca, e demos uma pequena volta na cidade com ele olhando tudo dentro dela. Passou calmamente o dedo pelo “Faustina”, que hoje está estampado na tampa do porta-luvas, parecendo estar gostado do que via. Até parecia que não tinha pegado ela zero, na concessionária Willys de Dores, isso em 1962. Nem pareceu chateado por eu ter trocado a cor dela, de cinza para verde. Dei também uma volta com o Humberto, filho do Sô Quito, mas ele foi dirigindo. Tomei a Faustina dele no meio do caminho de volta. O Humberto é menino novo, e não têm costume absolutamente nenhum com a caixa seca da Faustina.

Ai vem mais casos, como o que a Faustina foi a primeira a chegar a Dores do Indaiá em uma carreta. Antes disso vinham todos os carros rodando, de São Paulo ao destino, e quase sempre por terra, pois naquela época asfalto quase não existia. Veio ela e outra idêntica, gêmea, juntamente com duas Pick-Up’s Jeep na cegonha. As Pick-Up eram para Abaeté, mas as Rurais ficariam em Dores. A outra bateu o pára-lamas num barranco, na roça, e ficou meses parada na concessionária, esperando as peças. Isso com três dias de uso. Outro caso foi um estranho barulho que a Faustina vazia numa curva, dentro da cidade perto de um  posto de gasolina. Depois de muito apanhar, levantar em elevador, o mecânico da concessionária Willys da cidade descobriu uma chave de fenda solta, rolando dentro da caixa de ferramentas. E no meio de tantos outros casos, durante o lanche para nós preparado, Dona Theresinha veio com o assunto de catirar a Faustina na S10 que hoje Sô Quito possui. Quero não! A Faustina hoje só passeia, não trabalha mais...

Algumas fotos em frente a casa do Sô Quito, pois não dava para passar sem, outras na frente da igreja de Dores do Indaiá, muito bonita, pintadinha, e seguimos o caminho de volta. E foi felizes que voltamos. Mais à noite, paramos num restaurante de beira de estrada para um café, e coincidentemente foi o mesmo restaurante que paramos em 2001, na volta de Dores do Indaiá, quando compramos a Faustina. Me deu saudade do Rogério também. Ele era o Logus que a Rose tinha na época, e foi nele que viajamos para comprar a Faustina. E a satisfação dessa viagem foi tanta, que posso dizer que estou até hoje com a endorfina em alta com a satisfação do passeio, mesmo quase uma semana depois.

Ah! Dessa vez consegui! Rodamos 1.076 Km, acima dos 1.000 desejados. E a Faustina também deu acima dos cobiçados 7 Km/l. Deu foi 8,34 Km/l. Tá muito é bão, apesar de muito asfalto nessa viagem. Sou assim mesmo, gosto dos recordes. Quando mais novo gostava do menor tempo, hoje gosto da maior autonomia. Não faz muita diferença a economia de algo em torno de 20 litros de gasolina em uma viagem desse tamanho, mas que é gostoso a brincadeira, isso é! Descobri também que Sô Quito é igualzinho eu com os detalhes. A Rose perguntou se a S10 dava uns 8 Km/l. Ele, bem mais preciso respondeu: “Trabalhando normalmente, dá entre 8,2 e 8,5!”

Seguem essas fotos. Uma interessante é a da Rose, tomando chopp em um restaurante. Até ai tudo certo e nada demais. Mas eram uma e meia da tarde, de uma segunda-feira de trabalho enforcado. Dai a graça.

Até a próxima,

07/05/2007

   Walter Júnior - B. Hte. -

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