Fazemos muito isso. Sempre revivemos a viagem na semana seguinte. Sabe quando se diz: "Domingo passado numa hora dessas, há uma semana, estávamos acordando lá na roça." E sentimos as sensações todas novamente, enquanto o relatório da viagem é repassado e revivido. É o que acontece agora, quando relembro há duas semanas atrás, quando tinha ligado para o Zé Tadeu. O combinado foi encontrarmos na roça do Vô Osmindo, na sexta dia 19/07, para o almoço, com a Faustina encarregada da viagem. O Vô e a Vó já não estão mais conosco, mas é nunca que conseguirei chamar a roça de outra coisa, que não seja Roça do Vô Osmindo.
O Artur, o Zequinha, não tinha idéia do que era a roça. Conhece boi, galinha, cavalo, pois não é menino de apartamento, não é menino de granja. É caipira ! Urbano, mas caipira na essência. Ele nunca tinha ido lá, em Toscano de Brito, distrito de Campo Belo onde meu pai nasceu. A Laura, a Zequinha, já conhecia Campo Belo, numa viagem de 2009. Só que não conseguia se lembrar de praticamente nada. Mas os dois sabem da roça pelas histórias que conto, pelo caso da goiabada feita para o ano, ou o da mula, desembestada puxando a carroça no areião, entre muitos outros. Então, até chegar a hora da partida, ficaram muito ansiosos.
Mas logo ao chegar já se sentiram em casa, conhecendo tudo que não conheciam. Viram os pintinhos recém nascidos, e apanharam mamão. Conheceram um terreiro de café, e andaram pela horta até a roda d'água. O Tadeu trocou o velho carneiro do Vô Osmindo por uma roda com bomba, mais eficiente, e que consegue alimentar o pastinho lá em cima, e o lavador de café. Fico imaginando o Vô, quando instalou o carneiro. Dissesse que, uns anos a mais, teria ali uma roda alimentada usando tubos de plástico, ele acharia da maior importância. Naquela época era serviço para tubo galvanizado, como era instalado o carneiro. E se esbaldaram, mergulhando na leira de café, e nas cascas que sobram da máquina de café. No curral, na ordenha da tarde. Beberam leite tirado na hora, e também tiraram o leite, que é feito de maior monta. Isso tudo no primeiro dia, só na parte da tarde. E a linda e doce Larissa, chegou de São João Del Rey, onde está estudando, e a noite foi só brincadeiras com ela.
No sábado acordei cedo, e o Zé Tadeu já estava no batente. Peguei o Artur pela mão, e fomos passeando pela horta e pelo terreiro, até descobrir o Tadeu lá no lavador. O recurso foi ajudar, pois na roça o mais divertido é trabalhar. E para o Zequinha, que é tudo novidade, serviço nem é diversão, é festa.
Ainda pela manhã foi chegando o pessoal. A Tereza veio com o Tonho, o Rafael e a namorada vieram com o Luciano do Tonho. A Karine e o Luciano trouxeram a Antonella e a Tia Dolores. O Eduardo veio com a Tia Dora e a Patrícia, junto com o João Paulo e o Danilo. A comilança é certa. Toda hora. Café foi feito sete vezes, isso até o meio dia. Depois não contamos mais. Parece até que a roça é fábrica de café, num é ? Foi o dia mais agitado para os meninos. Tinham companhia da idade deles, os primos, então brincar era a lei. Andaram de cavalo, fizeram castelo de areia junto com o Luciano do Tonho, brincaram novamente no monte de casca de café. Foi um dia atribulado sem descanso. À noite o colo da Larissa e o da Tia Dolores era o que tinha de melhor, já quase na hora de dormir.
Domingo ficamos na roça até após o almoço. Mas deu tempo de uma andada no terreiro e no curralzinho dos bezerrinhos novos, e uma voltinha no pastinho, até um cocho de silo cheiroso. Voltamos eu e o Artur, para colocar um pouco de lenha no secador e dar um pulinho em casa. Ficaram Laura e Larissa na árvore ao lado do curral. Pelos retratos que a Larissa tirou, a Laura se esbaldou. O almoço da Eliana foi do mesmo tamanho de costume: Uma variedade e quantidade que é de impressionar.
Logo depois nos despedimos da roça. Fomos prá cidade, e aproveitei para uns retratos ao lado da estação, pintadinha de novo. Vovô Nazário foi chefe daquela estação, lá pelo final da década de 30, do século passado. Depois passamos direto na casa da Tia Márcia. Tava com saudades dela e da Tinica, como sempre foi que o Jurandir chamava a Denice. Sei que teve um baile no Clube um dia antes, e a meninada maiorzinha foi, claro. Os preparativos etílicos para o baile foi na casa da Tia Márcia mesmo, e o cura ressaca do outro dia também. Veio o Osmindo Neto, a Marina da Jaque e a Isabela da Tinica contando. A Marina nem precisa falar de que é, pois é a Jaqueline de novo. O Ulisses entrou só com a obrigação nessa. Sei que acabamos de chegar lá e a tia veio oferecendo o que ? Lasanha. Aquela Lasanha que o Didi costuma comer um tabuleiro, e se brincar come os outros também, nem olhando prá trás. Eu não sou besta, e não gosto de comer pouco da Lasanha da Tia Márcia também não. Mas logo após o almoção na roça não conseguiria dar nem mais um passo, mesmo com a boca cheia d'água, e tive que recusar. Só o pão de queijo da tia é que não pude dispensar. Tirei dele uns retratos, prá matar a saudade e também fazer inveja em quem não estava lá. Sempre tive um desejo de ter três estômagos. Mesmo que os outros dois só funcionassem em Campo Belo, onde seriam mais necessários.
A noite chegou a Dolores, Elaine e Neném. Conhecemos a casa novinha da Dolores, ficou uma gracinha, e partimos prá casa do Ademir. Era outro, que tanto gosto, que há tanto não via. Os meninos dessa vez conheceram a Manuela e a Débora, primas, filhas da Juliane. Elas foram para a casa do Zé Tadeu na segunda pela manhã, juntamente com a Antonella. Brincaram com o Artur e a Laura até a hora da nossa partida. Parecia que se conheciam há muito. O ponto alto foi o brinde, feito com copos d'água: "Amigos para sempre", é o que sempre proclamamos, e foi o que eles também desejaram. Isso enche os zói da gente de água, mas como sou eu o operador de Rural Willys caixa seca, concentrei na viagem logo em seguida.
Viagem de Rural é sempre bom. Foi por asfalto, mas não importa. Ver o perfil do capô dela emoldurando o asfalto, e as rodinhas do hodômetro confirmando o tanto de estrada que ficou prá trás, é o que sempre faço, enquanto os outros dormem. Também rumino minhas ideias, e com satisfação vim lembrando as reações dos meninos. A confirmação dos casos que conto de quando eu era menino é o que mais observo, como na hora que mostrei pra a Laura o barranco que a mula subiu puxando a carroça, lá no areião. Falando nela, o Tadeu reformou essa mesma carroça, uma charrete. Pena que não tiramos retratos com ela, ou no mínimo dar nela uma puxada, como naquele dia que a mula quase quebrou a charrete toda subindo o barranco. Soltamos a mula onde estava e voltamos puxando a charrete, eu e o Zé Tadeu. Que saudade ! Isso tem mais de 30 anos. Outra passagem que gostei foi uma observação da Laura. Sempre que ela atrasa para almoçar, que demora prá vir depois de chamada, eu a chamo de Tia Dolores. É que a Dolores morou na casa dos meus pais, quando eu era menino, e sempre inventava o que fazer na hora do almoço. Até hoje ela é assim, e sempre vem por último para a mesa. Dessa vez, num almoço lá na roça, ela fez dessa de novo. E a Laura não esqueceu, rindo e achando graça na hora que confirmava a veracidade do caso. Não sei qual é a sensação melhor, do caso em sí, ou essas reações dos meninos. Fico com as duas opções, difícil prá mim escolher.
Já chegando em casa, a euforia da viagem não passava. Adoraram, é o mínimo que se tem a dizer. A Rose ligou para minha mãe, para dar notícias. A Laura tomou o telefone, muito eufórica e ansiosa para falar com a Vovó Dóris. Tinha uma coisa a dizer, e bem dizer gritou, expressando seu deslumbramento: "Foi um privilégio fazer tudo isso !... ", e devolveu o telefone. O resumo dela não teria melhor, nem se concentrasse no assunto. É a mais pura verdade, e acho que nem eu nem a Rose temos a dimensão certa do que foi essa viagem para eles.Notaram que escrevi tudo para os Zequinhas ? Engraçado !... As aventuras minhas, da Rose e do Chico ficaram em segundo plano. Até o Edwaldo e a Faustina passaram a coadjuvantes. É a vida ! Tomara que tenham em Campo Belo as amizade que eu consegui, nos parentes e amigos que adquiri.
Um abraço, até a próxima,
28/07/2013
Walter Júnior - B. Hte. -
Campo Belo - Laura e Artur correndo em cima do café no terreiro - 19/07/2013
Campo Belo - O Zequinha brincando na casca de café, com o trator trabalhando ao fundo - 19/07/2013
Campo Belo - Artur tirando leite da vaca, com os cuidados do Eugênio - 19/07/2013
Campo Belo - Brincadeiras no monte de casca de café - 19/07/2013
Campo Belo - Laura andando de cavalo - 20/07/2013
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