O treim já vai findando a Quaresma, vesprando a Aleluia, e eu num dei conta ainda de contar a história do feriado de 15 de novembro do ano passado. Mas ainda dá tempo, num dá ? Então !... Vão lá:
O rumo era São Roque de Minas, na Serra da Canastra, lá na nascente do Rio São Francisco. Eu, Rose e Chico já conhecíamos lá, de uma viagem com o Edwaldo, mas os dois zequinhas não. O motivo da escolha do destino é que além de ser lugar prá ir sempre, também teria o Encontro Nacional de Rural, onde daria para conhecer um tanto de gente que só conheço por computador. Tinham duas dúvidas: Minha coluna, que eu acreditava já conseguir fazer a viagem, e o Zequinha, que não dá muito certo com viagem mais comprida, ficando impaciente na tal cadeirinha. Oficialmente são só 320 Km de Belo Horizonte até São Roque, mas a intenção era ir por caminho alternativo, pela BR 262, saindo do asfalto após Luz, rumando por Córrego D'Anta, Tapiraí, Medeiros e finalmente São Roque. Como isso demandaria mais tempo, tanto pela terra quanto pela maior distância, o recurso foi sair cedo, bem cedo. Então, antes das 4 da manhã já estávamos viajando na Faustina, cumprindo o programado.
Chegamos em São Roque de Minas ainda antes do almoço, os primeiros a chegar ao Encontro Nacional de Rural, mesmo porque saímos dia 14/11, um dia antes do feriado. Num passeio até o restaurante, consegui comprar um chapéu do tamanho da minha cabeça. Só achava chapéu pequeno, e o Veterano apesar de não sair da Faustina, está já baleado, de tanto os meninos pisarem nele. Na volta do almoço uma dormidinha e depois brincadeiras no riozinho que passa no fundo do hotel. Rio limpíssimo, garantiu a Renilda dona do hotel, o Hotel Chapadão da Canastra. E brinquei sem medo com os meninos, apesar de ser dentro da cidade. À noite fui à uma pizzaria, passeando pela cidade. Eu e minha menina, primeira vez que isso aconteceria. O Zequinha dormia cedo, e num teve jeito da Rose vir junto. Mas levamos o barranco prá ela, que gostou da lembrança.
Sexta-feira, feriado de 15/11, durante o café conhecemos pessoalmente o Ademar e a Maria da Paz, de Brasília. Fomos com eles até a Cachoeira do Capão Forro, perto da cidade. Foi programa que preencheu a manhã, e deu certinho com o horário do almoço. Encontramos o Lucas Alverne no hotel antes de sair para o restaurante. Ele ficou meio envergonhado, bobinho, mas insisti e ele veio conosco. Era para almoçar e depois ir à nascente do Rio São Francisco, e parte alta da Casca D'Anta. Ele é filho do Emílio de Fortaleza, mora em Belorizonte também, fazendo residência de neurocirurgia. Já era conhecido, já tinha ido lá em casa com o Emílio uma vez. O Emílio, o filho, e o Rafael com a namorada Luiza chegariam mais tarde. Então toma chão, até a nascente. Na verdade é um lugar simbólico, que dizem ser a nascente. A nascente são várias, e ficam logo acima, não mais que 500 metros. Provavelmente colocaram a placa da nascente ali porque é o primeiro pocinho do Rio São Francisco. E foi lá que eu nadei no meio dos peixinhos. Eu e o Artur, tremendo privilégio. Dali, roteiro no programa, demos uma passada no Curral de Pedras, umas ruínas bem antigas que ficaram, do tempo em que o parque era parte de uma fazenda, e tomamos o rumo da Casca D'Anta. Já conhecia a parte baixa, a do cachoeirão, mas a parte alta não. Muito bom nadar no Rio São Francisco, já um ribeirãozinho avolumado com uns 15 Km de vida. Foi lá que o Artur pegou a sua pedra, que infelizmente não fotografamos o momento. Mas é a pedra da primeira cachoeira que ele nadou, e mergulhou sozinho para pegar, comigo só resguardando da correnteza não o levar. Essa pedra está no jardim de casa, junto da pedra da primeira cachoeira da Laura, e outras também importantes. Mas claro que eu tinha levado um queijo. Acharam que tinha esquecido, no lugar do Queijo Canastra ? Fizemos o convescote à beira do Rio São Francisco, e voltamos já à tardinha. Dentro do Parque só tem estradão, mas vai ter vala e costeleta assim lá em São Roque de Minas. Ao entrar na cidade o Lucas avistou os irmãos andando pela rua. Foram ao Capão Forro de carona e à pé. Embarcaram satisfeitos no porta malas da Faustina, prá acabar de inteirar o caminho. Nesse dia, à noite, comemos sanduíche. Foi a primeira fez que os meninos fizeram uma refeição assim, e, apesar de gostoso, eles continuam preferindo um bom feijão com lingüiça defumada, numa mirunguinha ao pé do fogão de lenha.
O sábado seria para fazer um passeio com o pessoal do encontro. O roteiro deles era nascente pela manhã, e Casca D'Anta parte baixa à tarde. Como o programa da manhã já tinha sido feito um dia antes, resolvemos gastar a manhã indo à Cachoeira do Nego. Essa já conhecíamos, mas os meninos e os Alverne Mirins iriam gostar de conhecer. Preferimos lá porque é perto, conhecemos o caminho, e não perderíamos o passeio de depois do almoço. Demos azar, pois chegamos lá e a mulher do Nego nos recebeu no curral, dizendo que a chuva tinha matado uma novilha , que estava apodrecendo bem no poço. "Se quiserem podem ir, mas lá não está muito bom não", disse ela. A solução seria o Cerradão, mas lá tinha também descido uma vaca da fazenda do Ottinho, e estava fechado pelo mesmo motivo da Cachoeira do Nego. Ela nos indicou ir à Cachoeira do Antônio Ricardo, logo mais à frente. "É ali !..." Fomos ! Não era tão pertinho, mas a gente na Faustina, e os Alverne no Uno do Lucas, deu de chegar até que rápido. A indicação é que tinha um guia, o Dorico. Nos disseram que lá era meio complicado de chegar sem guia. Nunca tínhamos usado um guia, eu, Rose e Chico sempre enfiávamos a cara. Mas tinha o programa da tarde para ser feito, o Chico já mais velho, e dois meninos junto, tratamos com o Dorico. "É ali !...", disse o Dorico começando a caminhada, subindo o subidão sem fim. Trilha pesada, pesadíssima. Me fez lembrar exatamente a "Caminhada árdua, numa rampa íngreme..." história que também tá guardada aqui, que conta o tão pesado que ir à Cachoeira do Tabuleiro, a maior de Minas Gerais, lá no norte, em Conceição do Mato Dentro. Puxa Laura pela mão, arrasta a Rose, carrego o Artur. Todo mundo cançado, os meninos demais, e eu já num tava agüentando com minha coluna. O Chico é que foi subindo melhor que todos. Foi nisso que o Dorico mais valeu. Lá pelas tantas, colocou o Artur nas costas, deu prá ele uma varinha, e foram caçar borboleta caminho acima. Nisso o Artur gostou, tocando borboleta até lembrar da música da caveira. Foi lembrar e começar cantar o "Fui num cemitério,...". Cantou ao menos umas 180 vezes, mas não chorou mais. O Rafael me arrumou um medo de altura danado, e fui brincando com ele para ir distraindo, até ver que tava era em pânico com a dificuldade do caminho. Não desistimos, já tinham falado que a cachoeira compensava, até chegar, à duríssimas penas. E valeu mesmo. Nadamos prá afogar o cansaço e reidratar a mente. Até o Dorico, acostumado com o caminho entrou. Comeu um pacotinho de biscoito, pulou na água e depois foi descansar. Só o Chico é quem ficou olhando, como de costume, deitado numa moita perto da água. Aliás, num imaginava que nem eu, nem Rose e nem o Chico conseguiríamos voltar num lugar dessa dificuldade. A Rose com joelho operado, eu com a coluna, e o Chico, com seus 12 anos, já com um teco de artrose na traseira. Mas isso só prova que estamos dentro ainda. Mas lá pelas tantas, já com a vontade de nadar mais que morta, vi um chuvão vindo dos lados da cidade. Acho que me impressionei, e até notei que o volume de água da cachoeira tinha aumentado um pouco. Como seguro morre mais velho, chamei o pessoal prá sair d'água, e ficar mais na beirada. A chuva não tinha caído na cabeceira da cachoeira, mas tava rumando para o nosso lado. Hora de descer, e apesar da chuvinha que tomamos a descida foi bem mais fácil. Não só porque é prá baixo, mas porque não tinha mais o sol forte da subida. Por pura sorte a chuva muito forte deu uma desviada, e ficamos só com a beiradinha dela. Só que foi o suficiente prá chegar com as canelas bem enlameadas lá em baixo. Voltamos para a cidade, com a Faustina dançando na reta plana enlameada. Olhei o Uno do Lucas no retrovisor, e tava pior. Tinha chovido muito mesmo, que quiabo virou a terra roxa. Sorte não ter pegado aquilo tudo à pé. Já eram quase 6 da tarde, e a gente sem almoço. O lanchinho tinha quebrado o galho, mas era principalmente para os meninos. A Rose disse para passar em algum lugar e jantar, mas era cedo prá isso. Lembrei do churrasquinho na praça da Matriz, que vi no dia em que eu e a Laura fomos comer a pizza. Num deu outra. O Zequinha dormindo na Faustina, e o restante da turma entrando no churrasquinho. Churrasquinho de qualquer coisa que estiver pronto, até acalmar a fome. E cerveja prá lavar a alma. Foi nessa hora que virei para o Rafael e comentei da furada que enfiei ele. Ele agradeceu, e pediu foi para ter mais. Acho que estreiou bem estreiado, e de agora prá frente perde o medo.
À noite tivemos um jantar com a turma toda. Era a última noite e todo o pessoal iria embora no domingo pela manhã. Foi a oportunidade que tive de fica mais com eles, já que a aventura da tarde não tinha nos deixado ir à Casca D'Anta por baixo. No domingo pela manhã fiz um bota fora da turma, um tanto de Rural saindo para viagem. Arrumamos os meninos e tocamos para a Casca D'Anta. Estrada enquiabada, carro dançando na reta, chuva caindo. Em Vargem Bonita a chuva apertou, e resolvemos foi voltar, deixando a Casca D'Anta prá outra oportunidade. Já que não teria mais jeito de nada mais com aquela chuvarada, arrumamos o carro, despedimos do pessoal do hotel, e saímos para Belo Horizonte. Mesmo assim fomos os últimos a sair. Como fomos os primeiros a chegar, batemos a marca de maior permanência no IV Encontro Nacional de Rural Willys. Pena que não ficamos tanto com o pessoal. Mas foi ótimo esse nosso retorno às viagens, não tenham dúvida. Só prá esgotar esse assunto, a Laura antes de sair do hotel, ainda despedindo da Renilda disparou: "Pai ! Vamos mudar para São Roque de Minas ?".
Um abraço, até a próxima,
16/04/2014
Walter Júnior - B. Hte. -
waltergjunior@waltergjunior.com
A primeira parada na ida, no centro de
Tapiraí, ao lado da rodoviária.